Como o Twitter ajudou vítima de abuso sexual a enfrentar exame ginecológico
Anneli Roberts nunca tinha feito exame de papanicolau e compartilhou seus receios no Twitter; inúmeras mensagens de apoio e dicas de usuários da rede social a ajudaram a se submeter a procedimento, usado para rastrear câncer de colo de útero. Anneli Roberts, vítima de abuso sexual, nunca tinha feito um exame de papanicolau e compartilhou isso no Twitter Anneli Roberts/Divulgação "Acabei de marcar meu primeiro exame de papanicolau. Demorou anos para ter coragem. Tenho 29 anos e sobrevivi a abusos sexuais. Hoje tive um estalo e marquei a consulta. Que tal um abraço coletivo?". A mensagem foi publicada no dia 5 de agosto por Anneli Roberts, do País de Gales, no Reino Unido. Dinamarca prescreve ‘vitamina de cultura’ para pacientes com depressão 8 testes simples de saúde que você pode fazer em casa Com mais de 55 mil curtidas, 3 mil comentários e 1 mil retuítes, ela logo descobriu que o pedido por um abraço coletivo deu início a algo muito maior: uma grande conversa global, repleta de conselhos, apoio e confissões sobre o exame ginecológico usado na prevenção do câncer de colo de útero. Anneli diz que ficou chocada com a quantidade de pessoas que entraram em contato com ela e a repercussão do tuíte, publicado três dias antes da consulta. Pessoas opinaram de diferentes lugares do mundo sobre por que algumas mulheres evitam o papanicolau ou como fazer para reduzir a ansiedade e preocupação com o procedimento. "Eu costumo conversar muito no Twitter. Dou apoio a campanhas por saúde mental e o retorno na plataforma realmente ajuda", diz Anneli. "Tuitei sobre a consulta porque queria prestar contas com meus seguidores. Tinha agendado uma outra vez, mas cancelei", conta ela. Anneli diz que ficou surpresa com a reação, uma vez que as pessoas estão sempre com medo de falar sobre o tema. "Você pensa: sou a única que está tendo dificuldade?". Ela conta que recebeu muitos conselhos bons que acabou adotando. "Muitas mulheres me disseram para falar com a enfermeira e eu não imaginei como isso ia ser importante e útil antes de ter tuitado". Anneli escreveu um post mais detalhado num blog sobre a experiência na consulta, contando que vestiu uma saia, acatando o conselho dado por várias pessoas, de que isso a ajudaria a encarar o procedimento. Ela também contou à enfermeira o seu histórico de vítima de abuso sexual íntimo. No Reino Unido, normalmente são enfermeiras e não médicos quem fazem o exame de papanicolau, no qual é introduzido um pequeno instrumento - chamado espéculo - na vagina, para manter o canal vaginal aberto e permitir a observação do colo do útero. Em seguida são coletadas amostras de células da parede vaginal e do colo do útero - para análise em laboratório. Anneli conta que recebeu mensagens de profissionais da área de saúde. Médicos lhe disseram que jamais pensaram que mulheres poderiam estar evitando fazer o exame de papanicolau - não porque se sentiam constrangidas, mas porque havia muitas outras razões para impedi-las de querer serem examinadas. Initial plugin text Initial plugin text Alguns homens e mulheres responderam ao tuíte de Anneli revelando as próprias histórias de abuso sexual e como pensaram duas vezes antes de se submeter a certos exames e procedimentos. Homens escreveram sobre os desafios de fazer o exame de toque retal, também conhecido como exame de próstata, e algumas mulheres admitiram que não sabiam o que esperar do primeiro exame de papanicolau que estavam prestes a fazer. Heather Sales, de 44 anos, é uma das que respondeu ao tuíte original de Anneli. Ela aconselhou a pedir que a enfermeira usasse um espéculo menor, o que faria o exame parecer menos intrusivo. À BBC, Heather disse que ela também teve problemas em fazer exames de papanicolau e que ficava ansiosa por motivos parecidos. "Isso foi anos antes de uma enfermeira me perguntar se eu preferia um espéculo menor", conta. Heather diz que antes disso acontecer, ela nem sabia que podia escolher o tamanho do espéculo. Achou que não ofereciam a alternativa porque seria mais difícil coletar o material com espéculos menores. "Elas são, com certeza, menos assustadoras que os espéculos grandes. Acho que deveriam ser uma opção para mulheres que claramente estão ansiosas". Outra usuária do Twitter compartilhou a própria experiência dizendo que sempre achou que os exames de papanicolau eram muito desconfortáveis. "Na hora do exame, digo firmemente 'acho esse procedimento difícil e às vezes fico com os músculos tensos. Por favor, pare quando eu lhe pedir e só reinicie quando eu disser (que pode)'". "Eles são geralmente muito, muito legais e conversam sobre o tempo, feriados ou algo que me distraia." "Eu queria oferecer apoio fraterno à jovem corajosa e dar a ela palavras que às vezes você não tem quando está estressado. Eu tive boas e más experiências de teste de papanicolau, e tudo isso depende muito da forma que as pessoas fazem o exame". Essa usuária contou que, uma vez, uma enfermeira disse "vou ter que fazer isso" na hora em que os músculos da vagina estavam tensos, provocando dor ao forçar o espéculo. "Me senti violada e com dor. Agora sou muito clara em falar (como quero que o exame seja feito)". Anneli disse que, embora não tenha sido capaz de responder a todos, era animador ver estranhos conversando sobre o assunto. "Toda vez que eu senti que não era capaz de ir em frente, olhei para as respostas e isso me fez sentir mais forte", disse ela. Em seu blog pessoal, Anneli acrescentou que se sentiu aliviada depois de tudo, mas que pessoas que sofreram agressão sexual podem ter um longo caminho pela frente antes de se sentir preparadas para um exame tão íntimo. Ela disse: "O procedimento não foi doloroso ou realmente desconfortável. A enfermeira era simpática e incrivelmente compreensiva. Não demorou muito e, sim, estou feliz por ter ido". "Mas dizer essas coisas e esperar que outras vítimas de agressão sexual, abuso e estupro se convençam de que não há razões para se preocupar seria fazer um desserviço a essas mulheres."
Fonte: Globo.com
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