Cientistas chineses usam método de edição de DNA para tratar paciente com HIV
Tentativa era curar ao mesmo tempo leucemia e infecção pelo HIV em uma pessoa de 27 anos. Estudo não chegou à cura para a Aids, mas obteve avanços. Células do vírus HIV (viriões), em imagem microscópica produzida em 2011 Maureen Metcalfe, Tom Hodge/CDC/AP Pela primeira vez, cientistas chineses conseguiram usar o método Crispr de edição de DNA para tentar curar uma pessoa que vive com o vírus HIV. Eles implantaram no paciente células de sangue alteradas em laboratório para serem resistentes à infecção do vírus. Embora não tenham conseguido a cura para o HIV, o método se mostrou um avanço na pesquisa, segundo o grupo de cientistas. O estudo foi publicado na revista "The New England Journal of Medicine", na quarta-feira (11). O método Crispr vem sendo amplamente usado em pesquisas de laboratório, e esse grupo de cientistas chineses foi bastante criticado pela comunidade científica, no ano passado, quando revelou ter usado esse método em embriões, levando ao nascimento de duas meninas gêmeas. A edição do DNA de embriões ainda é considerada arriscada demais, em parte porque as mudanças provocadas no genoma podem passar para futuras gerações. Como foi usado o método A edição de genes altera permanentemente o DNA, o "código da vida" de um organismo. O método Crispr ainda é relativamente novo. Por meio dele, cientistas podem cortar um pedaço do DNA e inserir outro, em um ponto específico. Neste caso específico, um homem de 27 anos que vive com o vírus HIV precisava de um transplante de células tronco de sangue para tratar uma leucemia - um transplante de medula óssea. Ao mesmo tempo, em tratamentos anteriores, dois outros homens parecem ter sido curados tanto do câncer quanto do HIV, por meio de transplantes de células vindas de doadores com resistências naturais ao HIV. Método Crispr permite 'editar' o DNA Betta Jaworski Como esse tipo de doador é extremamente raro, os cientistas chineses tiveram a ideia de criar uma resistência parecida ao HIV, editando o gene específico que possibilita essa resistência. Eles conseguiriam, em laboratório, imitar uma mutação genética. O transplante colocou, de fato, o câncer em remissão. E as células que foram alteradas para resistir ao HIV continuam funcionando, mesmo 19 meses depois. Mas elas correspondem a somente 5% a 8% dessas células sanguíneas. Portanto, a quantidade delas foi superada pelas células que ainda estão infectadas com o HIV. "Elas precisariam alcançar 90% ou mais para que realmente tivéssemos a chance de curar o HIV", explica June. Agora, cientistas estão testando diferentes alternativas para que o método seja mais eficiente. Um dos líderes do estudo, Hongkui Deng, da universidade de Pequim, afirmou que o princípio fundamental da pesquisa estava correto. Sem efeitos indesejados Um dos resultados mais estimulantes, segundo os pesquisadores, é que a edição do DNA neste caso não teve efeitos não desejados sobre outros genes do corpo. June comentou que "uma das preocupações é que formassem uma 'célula Frankestein', que atingiria outros genes em vez daqueles desejados", mas isso não ocorreu. A China está avançando rapidamente nesse tipo de pesquisa e pode chegar a tratamentos viáveis antes que outros países, como os Estados Unidos, segundo a pesquisadora. Grupo de cientistas polêmico O artigo publicado esta semana, cujos autores são vários cientistas chineses, é o primeiro a relatar o uso do método Crispr para tratar uma doença em uma pessoa adulta e, portanto, as mudanças no DNA ficam limitadas àquela única pessoa. A tentativa foi um sucesso em alguns aspectos, mas não é ainda uma cura para o HIV. De qualquer forma, segundo Carl June, pesquisadora da Universidade da Pensilvânia (EUA), o estudo mostra que a edição genética é uma promessa e parece ser uma técnica precisa e segura em pacientes. June é uma especialista em genética que escreveu um comentário na mesma revista científica. "Isso é muito bom para esse campo de pesquisa", afirmou. "Não há nenhuma preocupação com esse estudo, do ponto de vista genético." O governo chinês incentivou financeiramente a pesquisa e manifestou estar de acordo com os procedimentos. Na pesquisa anterior do mesmo grupo, com embriões, esses apoio não foi feito abertamente em todas as etapas.
Fonte: Globo.com
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