Cientistas publicam estudo sobre crânio de dinossauro 'gaúcho' descoberto há 20 anos


Fósseis foram encontrados em Santa Maria há duas décadas, mas só puderam ser analisados devido à tecnologia atual. Estima-se que o animal tenha habitado o estado cerca de 230 milhões de anos atrás. Atista Rodolfo Nogueira reproduziu a cabeça do dinossauro com base na pesquisa Rodrigo Temp Müller/Divulgação Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade de São Paulo (USP) publicaram nesta sexta-feira (6) o primeiro estudo sobre os ossos externos do crânio de um Saturnalia tupiniquim, o dinossauro "gaúcho" descoberto no fim do século passado. Ele foi encontrado, há cerca de 20 anos, nos arredores de Santa Maria, na Região Central. A primeira pesquisa sobre o Saturnalia havia sido publicada por um grupo liderado pelo professor Max C. Langer, da USP de Ribeirão Preto, na época estudante de doutorado na University of Bristol, na Inglaterra. Pesquisadores, no entanto, não conseguiram estudar os ossos do crânio do animal, pois estava inserido em fragmentos de rocha, o que tornava a preparação tradicional arriscada, devido à fragilidade do material. Com o uso de um microtomógrafo instalado no Centro para Documentação da Biodiversidade, no Departamento de Biologia da USP, foi possível examinar o crânio do Saturnalia. O estudo, então, foi publicado no periódico científico PLOS One, liderado pelo pós-doutorando do Departamento de Biologia da FFCLRP-USP, Dr. Mario Bronzati Filho, e com a participação do professor Max C. Langer e do paleontólogo Rodrigo Temp Müller, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPPA) da UFSM. "Ele é importante porque é o membro mais basal, mais primitivo do grupo dele", explica Müller. "Até então não tínhamos certezas sobre algumas coisas. As outras formas (do grupo de dinossauros) têm crânio maior, e achávamos que este teria um crânio menor. Com este fóssil, pudemos comprovar. É um modelo para estudo do mundo todo", acrescenta o cientista. Com o uso da microtomografia computadorizada, os ossos do crânio do Saturnalia foram reconstruídos virtualmente, em modelos 3D. Através deste estudo, os pesquisadores puderam estimar o tamanho da cabeça do dinossauro. Ilustração do animal em vida, confeccionada pelo artista Rodolfo Nogueira Rodrigo Temp Müller/Divulgação Como era o dinossauro 'gaúcho' Saturnalia possuía um crânio de menos de 10 centímetros de comprimento, bastante pequeno em relação ao tamanho do animal. Como possuía um pescoço longo, um crânio pequeno e leve daria maior agilidade e mobilidade para movimentos de cabeça e pescoço, podendo ter sido importante para uma maior eficiência na captura de pequenos vertebrados ou insetos. As análises revelaram, ainda, detalhes adicionais de como foi a evolução da dieta desses animais. As formas mais antigas se alimentavam de pequenas presas, enquanto que as formas mais avançadas começaram a acumular características que ajudaram na aquisição de uma dieta herbívora. Este dinossauro pertence à linhagem conhecida como Sauropodomorpha. Os representantes mais famosos deste grupo são os pescoçudos saurópodos, os maiores animais terrestres que já habitaram a Terra. Entretanto, diferentemente de seus descendentes, animais como Saturnalia (de 230 milhões de anos atrás) eram pequenos, com cerca de 1,5 metros de comprimento, e pesavam menos de 30kg. Rodrigo Müller explica, por sua constituição física, o Saturnalia teria parentesco com lagartos, crocodilos, aves. A reprodução gráfica foi feita pelo artista Rodolfo Nogueira com base nos estudos científicos de fósseis de vários lugares. Ela é extremamente fiel ao que já foi encontrado até hoje no mundo todo. "O Saturalia tem boa parte do esqueleto preservado. O artista só não tem certeza de textura e cor", diz Rodrigo. Visitação aberta Quem tiver interesse em conhecer os dinossauros da região central do estado, assim como outros fósseis, pode visitar o CAPPA, em São João do Polêsine. O centro possui cerca de 500 exemplares de animais pré-históricos em seu catálogo, dos quais 50 estão em exposição. Nos próximos dias, o Saturnalia deve ganhar uma versão impressa por uma impressora 3D para ser apresentado ao público. O CAPPA fica aberto para visitação de segunda a sábado, em horário comercial, e a visita não tem custo. O contato pode ser feito pelo telefone (55) 3269-1022 ou pelo e-mail cappa@ufsm.br.

Fonte: Globo.com
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