Pesquisa que pode reduzir danos de óleo encontrado no litoral do Nordeste é apresentada pela UFV


Segundo professor, a tecnologia foi desenvolvida para ser aplicada em locais oceânicos contaminados por moléculas que não se misturam à água, como hidrocarbonetos do petróleo. Entenda como funciona. Mancha de óleo é vista na praia de Peroba, em Maragogi (AL) Diego Nigro/Reuters Uma tecnologia desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata mineira, pode ajudar a eliminar diminuir os danos provocados pelo óleo, que desde o final de agosto atinge mais de 200 localidades de nove estados do Nordeste do Brasil. A substância que tem sido encontrada nas praias nordestinas é a mesma em todos os locais: o petróleo cru. A composição tem afetado a vida de animais e causado impactos nas cidades litorâneas, afetando reservas, turismo e comunidades pesqueiras. A origem do poluente ainda está sob investigação. De acordo com o coordenador da pesquisa, o professor Marcos Rogério Tótola, uma das soluções mais eficazes e menos danosas ao meio ambiente, está na biodegradação, ou seja, na desintegração das manchas por micro-organismos. "Trata-se de uma emulsão com gotículas de óleo que carregam dentro delas água fertilizada, para ser pulverizada nas manchas de petróleo sobre a água e rochas contaminadas", revelou. O desenvolvimento da pesquisa foi feito no laboratório de Biotecnologia e Biodiversidade para o Meio Ambiente da instituição. Além do coordenador, o estudo contou com o ex-orientado de doutorado Edmo Montes Rodrigues e o professor Alvaro Vianna Novaes de Carvalho Teixeira, do Departamento de Física da UFV. Desenvolvimento De acordo com a UFV, "a tecnologia diz a respeito a emulsões duplas compostas por água/óleo/água, que contêm nutrientes inorgânicos, gelatina, óleo vegetal e surfactantes". Ela foi pensada para ser aplicada em locais oceânicos contaminados por moléculas orgânicas hidrofóbicas - que não se misturam à água - como hidrocarbonetos do petróleo, a mesma substância que afeta o litoral nordestino. Para o professor Tótola, da UFV, a biodegração é uma das soluções menos danosas ao meio ambiente UFV/Divulgação Segundo o Tótola, quando acontece um vazamento de óleo no mar, uma parte do petróleo é perdida por volatilização, ou seja, vai para o ar, e outra por fotodegradação, devido à exposição da luz. Conforme o pesquisador, o petróleo é composto por moléculas de hidrocarbonetos, que só contêm carbono e hidrogênio. O professor explicou ainda que quando ocorre uma contaminação, como a que está acontecendo no Nordeste, muitas vezes, ela é acompanhada de uma carência nutricional, especialmente de elementos como nitrogênio, fósforo e ferro. "Embora haja hidrocarbonetos, uma fonte fantástica de energia para os micro-organismos, eles não conseguem se multiplicar e aproveitar essa fonte potencial de energia e de carbono. Portanto, não conseguem transformar isso em novas células microbianas, porque faltam outros nutrientes”. A partir desse entendimento, Tótola e os pesquisadores perceberam que a solução seria o uso de fertilizantes, assim como acontece na agricultura, onde são aplicados em solos pobres de nutrientes. Mas como não é possível fertilizar o mar inteiro e nem utilizar fertilizantes solúveis, pela previsível dissipação, eles começaram a pesquisar formas de “grudar” os nutrientes nas manchas de óleo, de modo que pudessem explorar o potencial de micro-organismos para degradar os contaminantes. Voluntários para removem óleo de pedras na Praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho Mônica Silveira/TV Globo Pesquisa As pesquisas e testes foram realizados a partir de um projeto de estudos de ilhas oceânicas. Eles estudaram a Ilha da Trindade, localizada a cerca de 1.200 quilômetros a leste de Vitória (ES). No local e nas águas do entorno, pesquisaram a biodiversidade e o potencial dos micro-organismos degradarem hidrocarbonetos de petróleo. “Fizemos isso exatamente pensando numa situação como a que estamos vivenciando no Nordeste; de se ter uma contaminação na ilha e prever a partir daí estratégias que poderiam ser adotadas para minimizar o dano ambiental”, conta o professor Tótola. Um dos objetivos do estudo foi obter micro-organismos com alta eficiência de degradação dos vários tipos de moléculas que compõem o petróleo. Dois deles foram identificados pela fenomenal capacidade metabólica, capazes de utilizar todos os hidrocarbonetos avaliados. Apesar desse grande potencial, os pesquisadores sabiam que ele não poderia ser explorado em um ambiente contaminado, em função da indisponibilidade natural de nutrientes no local. A emulsão surge, portanto, como uma alternativa para minimizar a escassez nutricional e estimular a biodegradação. Feita só com compostos naturais, ela contém gelatina, coco glicosídeo, surfactante gras - que pode ser usado como aditivo alimentar -, óleo de canola, fontes de fósforo e de potássio e nitrato de amônia como fonte de nitrogênio. Há óleo dentro de água e água dentro de óleo disperso em água. Por isso, a emulsão dupla. Óleo na Praia Formosa, em Aracaju Kedma Ferr/TV Sergipe Com diferentes dimensões, essas esferas vão se desfazendo em diferentes tempos, liberando continuamente os nutrientes e transformando os hidrocarbonetos de petróleo em gás carbônico e água e em novas células microbianas. Com uma fonte de nutrientes minerais contínua, o processo de biodegradação das moléculas ocorre continuamente até serem totalmente eliminadas. “A elaboração é muito simples. É preciso ter apenas agitadores, pulverizadores e um apoio logístico para que a emulsão seja produzida e transportada para os locais contaminados", explicou. Com quase 20 anos de estudo em microbiologia do petróleo, o professor Tótola constatou que a biodegradação é o caminho para a solução do problema no litoral nordestino e que a emulsão desenvolvida no laboratório que coordena é a tecnologia mais eficiente, inclusive sob o ponto de vista de impactos para o Meio Ambiente. Initial plugin text

Fonte: Globo.com
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