A batalha solitária de um cosmólogo contra a teoria do 'Big Bang'


Peebles investigou a radiação cósmica de fundo ajudando a cimentar muitos dos detalhes e foi um dos premiados do Nobel da Física de 2019. O vencedor do prêmio Nobel de Física de 2019 James Peebles posa para uma foto enquanto fala com a imprensa em Princeton, em Nova Jérsei, nos Estados Unidos. Eduardo Munoz/Reuters James Peebles ganhou o Prêmio Nobel de Física deste ano por ajudar a transformar o campo da cosmologia em uma ciência respeitada, mas se há um termo que ele odeia ouvir, é a "Teoria do Big Bang". A principal explicação para o universo em seus primeiros períodos é dominante há décadas, com o trabalho inicial de Peebles que investigou a radiação cósmica de fundo ajudando a cimentar muitos dos detalhes. Trio leva Nobel de Física de 2019 por pesquisas sobre origem do Universo e descoberta de planeta Mas "a primeira coisa a entender sobre o meu campo é que o nome dele, Teoria do Big Bang, é bastante inapropriado", disse Peebles, de 84 anos, em um evento de homenagem aos vencedores do Prêmio Nobel dos EUA na Embaixada da Suécia em Washington na quarta-feira. "Isso conota a noção de um evento e uma posição, os quais estão completamente errados", continuou, acrescentando que não há evidências concretas de uma explosão gigante. O comitê do Nobel, no mês passado, homenageou Peebles por seu trabalho desde meados da década de 1960, que desenvolveu o atual quadro teórico predominante para o jovem universo. Mas ele é cuidadoso ao notar que não sabe sobre o "começo". O cientista James Peebles reage enquanto fala com a imprensa depois de ganhar o prêmio Nobel de Física em 2019. Eduardo Munoz/Reuters "É muito lamentável que se pense no começo, quando, na verdade, não temos nenhuma boa teoria de algo como o começo", disse à AFP em entrevista. Por outro lado, temos uma "bem testada teoria da evolução de um estado inicial" para o estado atual, começando com "os primeiros segundos de expansão" - literalmente os primeiros segundos de tempo, que deixaram assinaturas cosmológicas denominadas "fósseis". Fósseis na paleontologia são os restos preservados de seres vivos de épocas geológicas anteriores. Os fósseis cosmológicos mais antigos são a criação do hélio e de outras partículas como resultado da nucleossíntese, quando o universo estava muito quente e muito denso. Essas teorias são bem fundamentadas devido à preponderância de evidências e verificações, ao contrário das teorias da fase misteriosa anterior. "Não temos uma prova forte do que aconteceu antes", disse Peebles, professor emérito de Princeton. "Temos teorias, mas não testadas". 'Eu desisto' "Teorias e ideias são maravilhosas, mas para mim elas se estabelecem ao passar nos testes", continuou. "Teorias, é claro, qualquer físico brilhante pode inventar teorias. Elas podem não ter nada a ver com a realidade". "Você descobre quais teorias estão próximas da realidade comparando-as com as experiências. Nós simplesmente não temos evidências experimentais do que aconteceu antes". Uma dessas teorias é conhecida como "modelo da inflação", que sustenta que o universo primitivo se expandiu exponencialmente por uma minúscula fração de segundo antes da fase de expansão. "É uma bela teoria", disse Peebles. "Muitas pessoas pensam que é tão bonita que certamente está certa. Mas a evidência disso é muito escassa". Perguntado sobre qual termo ele preferiria ao "Big Bang", Peebles responde: "Desisti, uso Big Bang, não gosto". "Mas, durante anos, alguns de nós tentaram convencer a comunidade a encontrar um termo melhor, sem sucesso. Então é 'Big Bang'. É lamentável, mas todos sabem esse nome. Então eu desisto".

Fonte: Globo.com
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