Transmissões do coronavírus por pessoas sem sintomas podem responder por até 60% do total, avaliam estudos

Impacto das pessoas sem sintomas na pandemia é uma das justificativas de especialistas para o uso de máscaras por toda a população. Até 66% das transmissões do coronavírus são feitas por pessoas que estão sem sintomas da doença, os chamados casos assintomáticos. Esses dados têm sido obtidos por meio de pesquisas científicas recentes e são endossados por especialistas ouvidos pelo G1. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem o registro de 19 pesquisas sobre transmissões assintomáticas e pré-sintomáticos (por pessoas que não manifestaram sintomas na hora da transmissão, mas desenvolveram posteriormente). Os resultados apontam que: 6,4% das 157 pessoas monitoradas haviam sido infectadas por pacientes pré-sintomáticos. Nesse caso, a transmissão ocorreu de 1 a 3 dias antes da manifestação dos sintomas pelo paciente-fonte, segundo uma pesquisa divulgada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos em 16 de março; Na China, os assintomáticos foram responsáveis por transmissões de 46% a 62% dos casos, segundo pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, em um estudo publicado em 16 de março com base em dados coletados e um modelo de metapopulação; 48% das transmissões em Singapura e 62% na cidade de Tiajin, na China, até aquele momento, tiveram origem em pessoas assintomáticas, segundo estudo desenvolvido por pesquisadores holandeses e belgas, publicado em 18 de março. A OMS diz que o “risco de contrair Covid-19 de alguém sem sintomas é muito baixo”, mas que está “avaliando pesquisas em andamento sobre o período de transmissão do Covid-19 e continuará a compartilhar descobertas atualizadas.” Uso de máscaras diminui vírus no ambiente e pode frear 2ª onda de contaminação por coronavírus no Brasil, diz médica Outros materiais estão sendo produzidos, mas ainda estão nas fases de pré-print (quando o artigo ainda não passou pela revisão por pares). China começa a divulgar número de casos de assintomáticos do novo coronavírus Por que ocorre transmissão antes dos sintomas? De acordo com o epidemiologista André Ribas, o vírus consegue se replicar na mucosa nasal e bucal (fora da mucosa respiratória) e por isso está presente na saliva e nas secreções antes que o infectado passe a manifestar os sintomas. “A mucosa da via respiratória alta (nariz) expressa o gene do vírus, por isso ele se replica bastante nessa região.” Um estudo de pesquisadores alemães e publicado na revista Nature nesta quarta (1º) analisou nove casos e provou a replicação do vírus nos canais respiratórios superiores e constatou uma alta dispersão do vírus nas primeiras semanas. O professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), explica que isso se deve à concentração do vírus na orofaringe (região da garganta). “Conforme o paciente avança para estágios mais graves, o vírus entra na árvore brônquica e fica mais distante dos canais de saída”, diz Neto. O comportamento é diferente do registrado pela Síndrome Respiratória Aguda Grave, Sars-CoV-1, que causou um surto na China entre 2002 e 2003. Segundo Vecina Neto, este vírus (da mesma família do novo coronavírus) se replicava no pulmão. “A transmissão do Sars antigo só começava depois que o pulmão estava afetado. Portanto, só transmitia em período sintomático. Por isso foi mais fácil ser controlado”, explica. O epidemiologista Ribas afirma que essa não é uma característica exclusiva do novo coronavírus, já que o mesmo ocorre com os vírus que causam dengue e Influenza. “Mas com a dengue a Influenza, a transmissão pré-sintomática é muito baixa, seu pico ocorre no período sintomático. O problema é que a parte pré-sintomática de transmissão do novo coronavírus é muito alta, como têm apontados as pesquisas”, afirma. Segundo o médico, como é impossível precisar a proporção de assintomáticos em toda a população, a porcentagem nas transmissões pode ser ainda maior. “A transmissão assintomática só é rastreável quando tem um contexto para que se saiba sua origem.” Infectologista afirma de 80% dos casos de Coronavírus serão assintomáticos Cuidados As evidências apresentadas mudaram as orientações de prevenção do vírus. A transmissão assintomática reforça o isolamento social como maneira mais eficaz de barrar a transmissão e faz especialistas revisarem as orientações sobre o uso de máscaras, que está recomendado, segundo a OMS, apenas para pessoas com sintomas ou profissionais da saúde. “O infectado que não tem sintomas não toma os cuidados necessários com secreções e em momentos de tosse e espirro, porque ele não sabe que está doente e isso aumenta o risco potencial de infecção”, diz Vecina Neto. China aumenta controle de pacientes assintomáticos ao coronavírus Gente com o vírus, mas sem os sintomas, pode transmitir a doença? Initial plugin text

Fonte: Globo.com
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