Petroleiras financiaram 'campanha de desinformação' nos EUA sobre aquecimento global, diz relatório
Levantamento de pesquisadores norte-americanos, australianos e ingleses mostra que empresas reconheceram o papel da interferência humana para as mudanças climáticas ao mesmo tempo em que financiaram pesquisas contrárias ao consenso científico e teorias da conspiração. Indústria libera fumaça resultado da queima de combustíveis fósseis Reprodução/GloboNews/Arquivo A indústria de combustíveis fósseis é acusada de ter financiado "campanha de desinformação" contra o aquecimento global nos EUA. De acordo com o relatório "America Misled", publicado nesta segunda (21), pesquisadores internacionais sustentaram que petroleiras sabiam desde a década de 1970 dos riscos ao meio ambiente e ainda assim os omitiram. Aquecimento global causará ondas de calor intensas, diz estudo Aquecimento global vai elevar o nível do mar em até 1 metro em 8 décadas "Nossa intenção é mostrar para as pessoas como elas foram enganadas", disse ao G1 John Cook, professor da Universidade George Mason (EUA) e um dos autores deste levantamento. "Percebemos que as pessoas estão mais conscientes, agora que começamos a ver ações públicas questionando esta desinformação." O pesquisador recordou que em 2018, o Ministério Público de Nova York processou a Exxon Mobil por enganar acionistas ao minimizar os riscos do aquecimento global durante anos. Empresa foi processada pelo Ministério Público novaiorquino SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP Documentos internos O relatório traz trechos de documentos e memorandos internos da Exxon Mobil reconhecendo os riscos do uso de combustíveis fósseis para as mudanças climáticas. Os papéis vazados foram recuperados em uma investigação da professora de Harvard, Naomi Oreskes. A pesquisa de Oreskes, quem também assina o relatório, foi publicada pela revista "Environmental Research Letters" em 2017 e traz a íntegra de mais de 180 documentos da gigante norte-americana. Em um dos relatórios, há indícios de que a empresa sabia já em 1977 os riscos provocados pelas emissões de CO₂. Cook destacou o trabalho da colega e celebrou que a academia segue produzindo pesquisas sobre como a indústria de combustível fóssil negou durante décadas as evidências científicas, mas lamentou que o acesso a este material está restrito à comunidade científica, em publicações específicas. "A gente estuda muita sobre este caso, mas são poucas pessoas que conseguem entender o que a gente pesquisa. É por isso que trabalhamos esta espécie de resumo, que é o relatório America Misled. Quisemos traduzir a linguagem científica, que é complicada, para o público geral", explicou. 'Listras do aquecimento global' mostram como o mundo está cada vez mais quente Técnicas de desinformação O pesquisador norte-americano listou uma série de estratégias usadas pela indústria para contestar as evidências das mudanças climáticas. "É interessante, porque são técnicas conhecidas. Elas foram utilizadas nas campanhas pró-tabaco. Quando você mostra para as pessoas que elas foram enganadas e como elas foram enganadas, é uma forma de neutralizar essa desinformação. As pessoas não gostam de ser enganadas." O relatório cita o uso de dados fora de contexto, a disseminação de "especialistas falsos" que não têm formação adequada e o incentivo a teorias da conspiração como algumas das ferramentas utilizadas pela indústria. "É o negócio. A indústria tem um produto e quer vendê-lo. E querem seguir fazendo negócios. Eles até poderiam apresentar soluções mais limpas, mas preferiram deixar o público sem informações corretas e seguir oferecendo os mesmos produtos." Falta de informação é perigo Os pesquisadores sustentam que a desinformação foi intencional e visava bloquear qualquer ação sobre o aquecimento global. Eles explicam que estas campanhas foram bem sucedidas nos EUA porque atrasaram e até mesmo mitigaram importantes políticas públicas de combate às mudanças climáticas. O relatório defende que há uma intensificação nos efeitos do aquecimento global e que houve com isso mais desastres naturais, como furacões, tempestades e enchentes. O relatório alerta também para o aumento do nível do mar que pode chegar em até 1 metro em 8 décadas. O que é aquecimento global?
Fonte: Globo.com
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